O desenvolvimento do pensamento, mais que um simples processo lógico, desenvolve-se em resposta a desafios vitais. Sem o desafio da vida o pensamento fica a dormir... O pensamento se desenvolve como ferramenta para construirmos as conchas que a natureza não nos deu. (Rubem Alves)

23.2.09

Software Hércules e Jiló


Conversando com alguns alunos do PROINESP esta semana na disciplina de Softwares Educativos que atendessem o publico da educação especial, um deles me falou sobre o Hércules e Jiló. Pesquisei na internet e abaixo trago informações e o link onde baixá-lo.

O software educativo "Hércules e Jiló" foi idealizado para servir de apoio a intervenções pedagógicas no campo das Ciências Naturais, abordando conceitos relacionados com os seres que existem na Terra (diversidade, características, classificação, relações tróficas, ambientes naturais e construídos etc.).

Hércules é o nome de um menino, Jiló é seu cachorrinho. Eles não existem de verdade, mas se transformaram em personagens principais de um programa de computador educativo, criado na Faculdade de Educação (FE) da Universidade de Brasília (UnB). O programa oferece dez jogos que podem ser utilizados pelas crianças no próprio computador ou fora dele, desde que sejam impressos em papel e montados, como dominós. “Nossa idéia é mostrar que as crianças com necessidades especiais são capazes de aprender”, afirma a professora Amaralina Miranda, especialista na área que conclui no ano de 2005 o doutorado sobre o assunto, na Universidade Nacional de Educação à Distância, em Madrid, na Espanha. No programa, as imagens são alegres e coloridas para chamar a atenção e despertar o interesse pelo aprendizado.

Quer saber mais sobre o software - acesse aqui.

Uma cópia da imagem do CD original do software está disponível para download e foi compactada no arquivo abaixo:

hjilo.zip

Após a descompactação, o arquivo de imagem (hjilo.nrg) deve ser gravado em um CD.


Fonte: Universidade de Brasilia

13.2.09

Jogos de computador para cegos

Não sei se esta é uma realidade conhecida pela maioria de entre vós mas decidi escrever este artigo para dar a conhecer e talvez para orientar alguns possíveis novos interessados para este novo mundo que é uma fonte de bem-estar que nos transmite um sentimento de muita igualdade principalmente para os jovens como eu!

Eu em criança, como muitas crianças cegas tinha sempre o desejo incontrolável de ser igual aos outros e de fazer tudo o que os meus amigos faziam. Nessa altura todas as crianças passavam muito tempo a jogar computador e eu claro não conseguia.

Mas agora tudo mudou, muitos produtores (a maioria de países anglo saxónicos) criaram o fenómeno dos “acessible games” ou seja jogos que são totalmente acessíveis para pessoas sem visão.
E porquê? Simplesmente porque estes são jogos totalmente áudio onde a informação é totalmente sonora.

Para começar gostaria de indicar um site que digamos é o site da comunidade de jogadores e produtores de jogos para cegos:
www.audiogames.net
Este site (de língua inglesa) tem informação sobre todos os jogos existentes bem como descrições e links para o download dos mesmos. É uma excelente fonte para principiantes porque tem tudo o que devemos saber para nos orientarmos consoante os nossos gostos.

Não vou aqui dizer nem descrever os tipos de jogos que existem porque precisaria de escrever um artigo muito longo que poderia ser algo monótono mas diria para dar uma ideia que existem em versão áudio todos os tipos de jogos que existem para as pessoas com visão.

Em seguida vou citar um portal que tem um excelente jogo que é um simulador de corridas que está traduzido em português. O jogo chama-se Top Speed 2 e pode ser encontrado em:
www.playinginthedark.net

Outros jogos que são muito interessantes podem ser encontrados em páginas como:
www.kitchensinc.net
www.pb-games.com
www.vipgameszone.com
www.gmagames.com
www.lighttechinteractive.com
www.l-works.net

Existem muitos outros mas não seria interessante indicá-los todos porque seria uma lista interminável: apenas falei naqueles que me parecem ser os melhores. Se o tema interessar volto a escrever com mais informações.

Antes de terminar gostaria de mencionar um jogo on-line que está a ganhar cada vez mais adeptos que é um jogo que não é especificamente pensado para cegos mas que é perfeitamente acessível para os nossos leitores de ecrã e ainda por cima está traduzido em muitas línguas entre as quais o português. Neste jogo totalmente gratuito que é jogado no browser da Internet, somos um treinador de uma equipa de futebol e acompanhamos a nossa equipa na liga contra outros utilizadores. Joga-se em
www.hattrick.org


Fonte: Site Ler para ver

Orientando um deficiente visual no uso do computador

O primeiro contato do deficiente visual com o computador é um momento cercado de múltiplos sentimentos, misturando insegurança com curiosidade, despertando medo e ansiedade, e acima de tudo uma vontade imensa de conquistar a independência para realizar tarefas comuns ao dia-a-dia, mas que para ele, até então, não seriam possíveis sem a mediação de um vidente, o que tornam suas ações restritas.

O computador precisa ser apresentado em sua totalidade, não como algo intocável, cuja fragilidade não permite explorações, mas como um objeto que esteja a serviço do homem, uma ferramenta que mereça ser tocada, ser experimentada em suas diversas características físicas ou operacionais.

O deficiente visual não precisa ter medo do computador e, para isso, o professor/mediador pode tentar criar um clima de descobertas, propiciando esse contato e essa aproximação, bem como estabelecer uma relação de segurança e confiança entre ambos: usuário/mediador/equipamento.

A partir do reconhecimento da estrutura física do computador, um diálogo torna-se fundamental, para traçar metas, objetivos, finalidades, procurando compreender o porquê e o para quê esse novo conhecimento se aplica no dia-a-dia desses usuários.

Muitas ações são essenciais e dependem da etapa de aprendizado que esse educando se encontra, podendo aliar escrita/leitura do código Braille às funções do software ou apenas inserir o comando de voz a quem já domine a língua escrita ou, ainda, substituir o visual pelo áudio no caso de adultos já familiarizados com o mundo digital. E, uma outra oportunidade seria a utilização do computador para alfabetização/reabilitação no caso de experiências sem sucesso com o código Braille. Em quaisquer situações o uso do teste do teclado é insubstituível, e em certos casos podemos introduzir algumas marcas específicas no teclado, como etiquetas em Braille.

Conhecer a posição das teclas, identificar o som que cada uma produz (maiúscula e minúscula), até mesmo medir a força/pressão dos dedos para teclar é algo de extremo valor no início do aprendizado em informática. Posteriormente podemos navegar em seus menus, apresentando as opções do programa, leitor de documentos, editor de texto, jogos, entre outros. Gradativamente iremos ampliando essas explorações de acordo com o grau de dificuldade e com o desempenho de cada um diante das novas ações que estão sendo implementadas. O leitor de documentos é um dos aplicativos de maior importância para a familiarização da voz (pronúncia de palavras, leitura de frases, pontuação). Nessa etapa surge uma enorme dificuldade para compreender o que se fala, podendo diminuir as dúvidas de acordo com o uso. Quanto mais se escuta mais comum a voz se apresenta e a leitura surge com naturalidade.

O editor de texto é outro momento para explorar a digitação, assim como diferentes funções dentro do aplicativo.

Jogos e utilitários podem servir como apoio a construção dos conhecimentos em Dosvox. Uma outra observação pertinente ao tema, é a de que, no Dosvox, podemos utilizar diferentes caminhos para se chegar ao mesmo lugar, tornando-o ainda mais dinâmico. Basta esquecermos um dos caminhos que logo recorremos a outro pra substituir a lacuna que o esquecimento causou.

O computador pode e deve ser visto como uma ferramenta cognitiva que facilita a estruturação do trabalho, viabilizando a descoberta, oferecendo condições propícias para a construção do conhecimento.

Assim, a "informática" não deve ser vista como uma substituição do professor como mediador de um processo. É uma ferramenta que precisa ser utilizada a favor desse processo de ensino/aprendizagem e não contrário a ele. Estamos vivendo essa transição e, o "deficiente visual" também tem a oportunidade de estar cada vez mais próximo desse recurso, participando dessa evolução.

O acesso à informação pelo deficiente visual, até o surgimento de um sistema que possibilitasse sua interação com o computador, estava restrito ao uso do Sistema Braille, método essencial na etapa de alfabetização, na qual o contato com a palavra escrita, sua forma gráfica e distribuição no papel são essenciais para o processo. Porém o isolamento do deficiente visual, sobretudo adultos em processo de escolarização, reabilitação e profissionalização estava limitado aos seus pares, em que o Braille só permitia a comunicação entre os que o dominavam ou, através de transcrições dependendo de terceiros para atingir tal finalidade.

Por outro lado, as informações via áudio são falhas no sentido em que não se possibilita navegar no texto letra a letra, saber como as palavras são escritas, retornar e avançar com rapidez um determinado trecho.

Para isso, o Dosvox veio trazer a liberdade e independência que o deficiente visual precisava, autonomia esta que está sendo conquistada, aprimorada e reconstruída dia-a-dia com as constantes transformações tecnológicas, pois num momento em que o mundo se encontra conectado constantemente com a informação o deficiente visual ganha seu espaço não só para a conquista de sua comunicação, mas uma forma eficaz de inclusão escolar, profissional e social, podendo ele interagir com o mundo, ir além dos limites que sua visão alcança...

É ampliar suas possibilidades não apenas de interação homem/máquina, mas, sobretudo da interação entre todos nós!!!

Construir e reconstruir espaços acessíveis sejam eles dentro ou fora do ambiente educativo, tem como objetivo atingir um número cada vez maior de pessoas.

Devemos priorizar as múltiplas maneiras que os Deficientes Visuais apresentam de perceber e relacionar-se com o mundo, não evidenciando as deficiências, longe da super proteção e aproximando-se de uma maior valorização do ser humano. Percebemos, nessa longa caminhada, os desafios e obstáculos que temos que vencer dia-a-dia, porém não estamos sozinhos...

Trabalhar com Educação Especial/Inclusão Escolar é algo muito gratificante, até porque vivi e vivencio isso na prática e, a partir dessas experiências, aliadas à uma formação teórico/prática, tenho a missão de transformar as dificuldades em superação.

Fonte: Planeta educação - texto Luciane Maria Molina Barbosa

2.2.09

Formulários em uma Web para Todos

Gilberto Porta.
Marco Antonio de Queiroz - MAQ.

O uso de formulários é a forma mais comum para a prestação de serviços interativos. Também costuma ser o primeiro obstáculo sério na implementação de acessibilidade na web. A maior parte dos usuários utilizam os formulários com o mouse e o teclado, mas existem aqueles que só os manipulam por via do teclado, outros que precisam de indicações bem claras de como e onde preencher os dados, devido a possuírem baixa visão, ou ainda aqueles que fazem uso de softwares de varrimento de tela como é o caso das pessoas com deficiências neuromotoras graves.

Existem poucas coisas que podem tornar os formulários totalmente inacessíveis a quem usa apenas o teclado como forma de interação com um computador. Uma delas é o uso de javascript. É necessário ter alguns cuidados adicionais quando se faz uso de javascript para manipular dados de um formulário, para definir o foco em um controle, para alterar elementos, ou mesmo para submeter um formulário para processamento pelo servidor. Cada um destes aspectos pode tornar o formulário difícil ou mesmo impossível de preencher caso não seja possível usar o teclado. Observe sempre se aquilo que você consegue fazer com o mouse também consegue fazer usando apenas o teclado.

Quer ler a matéria na integra? Acesse Acessibilidade Legal

Fonte: Site Acessibilidade Legal

Blindtube - O primeiro Portal de Entretenimento com Acessibilidade.

O BlindTube é um sítio de exibição de filmes criado para possibilitar o acesso às pessoas com deficiência.

No BlindTube, as pessoas com deficiência visual têm à sua disposição o recurso à audiodescrição, através da qual, podem ouvir nos intervalos dos diálogos todos os pormenores que não são perceptíveis somente através da audição, tais como: as cenas sem diálogo, as reacções silenciosas, os cenários, os figurinos, as paisagens, entre outros.

As pessoas com deficiência auditiva dispõem de legendagem caption, na qual os símbolos indicam tudo o que está a acontecer no som do filme, como por exemplo, os ruídos, a música, quem está a falar…

Para as pessoas com deficiência motora é possível navegar somente através do teclado, sem a utilização do rato.

Para quem preferir, também é possível assistir ao filme sem a utilização destes recursos.

O BlindTube exibe filmes de curta-metragem de todos os géneros, estilos e temáticas.

O seu objectivo é proporcionar diversão, cultura e arte com acessibilidade a todas as pessoas.

Visite, divirta-se e divulgue: www.blindtube.com.br

Síndrome de Down - mitos e realidades

Gil Pena

“Os oprimidos que introjetam a “sombra” dos opressores e seguem as suas pautas, temem a liberdade, na medida em que esta, implicando a expulsão dessa sombra, exigiria deles que “preenchessem” o vazio deixado pela expulsão com outro conteúdo” - o de sua autonomia.” (Paulo Freire - educador).

Entre os meus estudos atuais, um autor com quem estou aprendendo muito é Paulo Freire. A pergunta é: Como fazer para que nós 1400 pessoas discutamos a consciência que temos a cerca do mundo, refletindo sobre ela, de modo a termos a possibilidade de construir uma realidade diferente a partir dessa reflexão?

A grande delícia é a possibilidade de construir uma realidade diferente, acreditar nessa possibilidade, ver que nós mesmos ainda não estamos totalmente construídos, que ainda cabem reformas e aquisições
na nossa forma de pensar, isso enquanto vivermos.

Nem todos compartilhamos da confiança nessa possibilidade. Haverá os que pensarão consigo mesmos: é impossível!

Dirão que estamos perdendo o tempo, a história está escrita e o que o futuro nos reserva, o destino já traçou, pois aos nossos filhos, veio o cromossomo a mais e não podemos mais tirá-lo dali, bloquear seus efeitos, e isso é a lei da genética, da fisiologia, da neurologia, da ciência, etc.

Não perceberão os que dizem que é impossível que não são eles mesmos que assim dizem, mas as “sombras” introjetadas em seus seres que lhe depositaram esses conteúdos e que foram assimilados sem reflexão. A sociedade não quer conviver com o diferente, é melhor deixá-lo fora disso, aceitemos então essa “verdade” que nos transmitem, que aceitamos como “depósitos” sem refletir, e nada de querer “ad-mirar” o mundo. É melhor então mitificar a realidade, nos dão um “falso mundo” para que possamos “ad-mirar”. Não percebemos o mundo como “problema”, mas como algo estático, a que os homens devem se ajustar.

A mitificação do mundo tem a ver com a ciência, a medicina, a pedagogia tradicional, a sociologia, a psicologia: nos apresentam a realidade, como “comunicados”, não nos é dada a oportunidade de
diálogo, de querer entender o que se passa, são mitos necessários à manutenção do “status quo”.

Há muitos mitos em torno das pessoas com síndrome de Down, que são mitos “depositados”. Aliás, todos nós de algum modo já percebemos que a realidade que vivemos desmente esses mitos, mas ainda assim, permanece a falsa verdade. A desconstrução de um ou outro mito não nos muda a visão do mundo. Permanece o falso mundo como a realidade visível. A “sombra” dentro de nós nos turva a possibilidade de ver claramente o mundo.

Há o mito de que as pessoas com síndrome de Down são deficientes.

O mito de que não aprendem a pensar o abstrato (a educação tem de ser concreta, tratar com símbolos, não com signos).

O mito de que adaptações (reduções, simplificações) curriculares são necessárias.

O mito de que serem aceitas na escola já é bom, que essa “socialização” com outras crianças é uma oportunidade que nos dão.

O mito de que aprendem até determinada idade, depois “estacionam”, “regridem”.

O mito de que o cromossomo a mais os tornam pessoas iguais.

O mito de que a educação especial é necessária.

O mito de que a escola tem de ter uma preparação metodológica prévia para saber lidar com a síndrome.

O mito de que somos pessoas especiais, que temos filhos especiais.

O mito de que temos nos contentar com a Holanda (”a Holanda é linda”), quando queríamos estar em Roma.

O mito de que a ciência está trabalhando para conseguir anular o cromossomo extra, que essa é a esperança que resta.

O mito de que não podemos contradizer o que nos dizem que está escrito nos genes (saberão mesmo ler os genes?).

O mito de que o “assistencialismo” é um conquista, quando esse mesmo assistencialismo é uma forma de sermos conquistados.

Temos de problematizar cada um desses mitos. Dar-nos a possibilidade de refletir sobre elas: são mesmo verdades que construimos ao longo do nosso viver ou simplesmente as “sombras” dos “depósitos” que recebemos e armazenamos sem refletir?

O texto acima é uma “transliteração” de Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido (p. 157-160).

Gil Pena é médico patologista e pai. Dedica-se a estudos na área da educação, dentro da linha do Projeto Roma

Fone: Blog Disdeficiencia

Diferença entre integração e inclusão - o reconhecimento de ser humano

de Suely Satow

Me consideraram uma exemplo de paralisada cerebral incluída, mas não é bem assim, eu sou INTEGRADA. Sofro muitos preconceitos.

Explico a diferença: se existisse a inclusão e não a inclusão pela exclusão, eu não estaria aqui servindo de exemplo. Não haveria nenhuma necessidade disso, pois todos estariam no mesmo patamar, que é o de ser humano e não um indivíduo rotulado de incapaz. Hoje, as pessoas rotulam o deficiente pela incapacidade, quando deveria ser do contrário, ou seja, eles devem ser vistos pelo lado de sua CAPACIDADE e, para isto, deve-se observar, pesquisar e estimular todas as capacidades encontradas nele e, principalmente, vê-lo como SER HUMANO, igual em sua humanidade, mas diferente, porque se apresenta diferentemente dos “comuns”.

2) tive de me moldar conforme as regras das pessoas comuns, ou seja, tive de fazer tudo o que uma pessoa comum fazia. Confesso que eu ia mais longe: fazia relatórios e resumos para outros alunos e sei agora, que era para ser integrada na turminha. Na inclusão, a pessoa com deficiência e outros alunos considerados problemáticos não terão de sofrer o “pão que o diabo amassou e triturou”, eles irão ter as coisas adaptadas a eles, eles serão respeitados em suas diferenças e passarão a ser como os outros e não um E.T. Eu concordo que isto ainda é uma utopia, mas se todos nós fizermos algo para a inclusão se instalar definitivamente, ela irá vingar.

3) o olhar do outro fazia com q eu sofresse muito. E não acontece só comigo. Acontece com outros alunos com deficiência, que acabam deixando as escolas por não agüentarem este olhar que vem carregado de descrença e conseqüente sofrimento para quem é dirigido.

Para que essa inclusão aconteça realmente e não fique só no papel e “brincadeiras acadêmicas” para aumentar ainda mais os artifícios da hipocrisia social, é preciso que toda a sociedade e as pessoas que dela fazem parte se repensem, reflitam e tenham um processo de trabalho sério com os próprios sentimentos. Sei que isto é muito doloroso, porque ninguém gosta de ver as próprias falhas, os próprios preconceitos, ainda mais com o surgimento do “politicamente correto”, onde é feio ter e mostrar qualquer tipo de preconceito, mas ela aparece nos olhares, no gestual etc., mesmo que a pessoa tente disfarçar ou de modo inconsciente. Isto é muito duro das vítimas agüentarem.

Acredito que a inclusão aconteça, quando houver uma desconstrução do velho padrão dos valores vigentes, para a reconstrução de outros, desta vez sem os pré-julgamentos das pessoas frente aos seus semelhantes, que todos somos. Acredito também, que a INCLUSÃO aconteça, quando TODOS (negros, pobres, doentes, mulheres etc. e não somente deficientes) tiverem seu reconhecimento como SERES HUMANOS.

Hoje temos a inclusão pela exclusão, muito bem explicada pela profa. dra. em psicologia social da PUC-SP Bader B. Sawaia, autora do prefácio do meu livro “Paralisado cerebral: construção da identidade na exclusão” e orientadora de minha tese, escreve

“Exclusão não é um estado que uns possuem, outros não. Não há exclusão em contraposição à inclusão. Ambos fazem parte de um mesmo processo. – “o de inclusão pela exclusão” – face moderna do processo de exploração e dominação. O excluído não está à margem da sociedade, ele participa dela, e mais, a repõe e a sustenta, mas sofre muito, pois é incluído até pela humilhação e pela negação de humanidade, mesmo que partilhe de direitos sociais no plano legal. A inclusão pela humilhação se objetiva das mais variadas formas, desde a inclusão pelo “exótico” até a inclusão pela “piedade” (personagem coitadinho) e não tem uma única causa. O estigma de ser portador de deficiência se interpenetra com outras determinações sociais como classe, gênero etnia e a capacidade de auto diferenciação dos indivíduos, configurando variadas estratégias de objetivação da reificação das diferenças. Para fugir à humilhação dessas diferentes formas de inclusão que lhes são oferecidas e ser “gente” para si e aos outros, o portador de IMC elabora estratégias de participação social fundadas no projeto de “apresentar-se socialmente ativo”, tornando-se, excessivamente exigente consigo mesmo, na busca da admiração e do amor de todos que o rodeiam. Enfim, para negar o papel de “sub”, opta pelo seu contrário, o de “super”, enredando-se por caminhos diversos na mesma trama da qual queria se libertar.

“Eu sou muito perfeccionista (…) Sempre tive medo de não conseguir realizar as coisas. Você tem que provar que você vai dar certo (…). Ou você mostra que é e o que pode fazer ou não consegue (…)”, diz um sujeito da pesquisa.”

Nesta fala, Maria sintetiza o sofrimento do portador de IMC, que na contraposição entre o personagem sub e super não logra o direito de “ser gente”. Incluir-se pelo personagem “super” é tornar-se exótico entre os “normais” e distinto de seus pares, apresentando-se como caricatura de si mesmo. A identidade humana se constrói na e apenas na diversidade, conforme enfatiza Maria,.

“Assim como você nasce com olho azul, ele nasce assim. Que bonito, né… A aceitação do ser humano como ele é… Se ele anda mancando, paciência. Se ele cair, paciência. É uma característica dele, como ser gordo, magro, loiro, moreno. Acho que tem que ser por ai.”

Realmente, tem que ser por ai a ação que Espinosa define como a “luta contra tudo que gera impotência e dor, tudo que despedaça a alma”.

Suely Satow é diretora executiva do Centro de Informação e Documentação do Portador de Deficiência (CEDIPOD) e doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1994).

Fonte: Blog Disdeficiencia